È A LÓKURA

Se eu penso em ti, seremos nós!!! Carpe Diem ...Akuna Matata!!!!

quarta-feira, junho 25, 2008

O autor deste texto é João Pereira Coutinho, jornalista.

"Não tenho filhos e tremo só de pensar.
Os exemplos que vejo em volta não aconselham temeridades.
Hordas de amigos constituem as respectivas proles e, apesar dabenesse, não levam vidas descansadas.
Pelo contrário: estão invariavelmente mergulhados numa angústia e numa ansiedade de contornos particularmente patológicos.
Percebo porquê.
Há cem ou duzentos anos, a vida dependia do berço,da posição social e da fortuna familiar.
Hoje, não.
A criança nasce, não numa família mas numa pista de atletismo, com as barreiras da praxe: jardim-escola aos três, natação aos quatro,lições de piano aos cinco, escola aos seis, e um exército deprofessores, explicadores, educadores e psicólogos, como se acriança fosse um potro de competição.·
Eis a ideologia criminosa que se instalou definitivamente nassociedades modernas: a vida não é para ser vivida - mas construídacom sucessos pessoais e profissionais, uns atrás dos outros, em progressão geométrica para o infinito
É preciso o emprego de sonho, a casa de sonho, o maridinho desonho, os amigos de sonho, as férias de sonho, os restaurantes de sonho.

Não admira que, até 2020, um terço da população mundial esteja a mamar forte no Prozac.
É a velha história da cenoura e do burro:quanto mais temos, mais queremos.
Quanto mais queremos, mais desesperamos.
A meritocracia gera uma insatisfação insaciável que acabará por arrasar o mais leve traço de humanidade.
O que não deixa de ser uma lástima.·
Se as pessoas voltassem a ler os clássicos, sobretudo Montaigne,saberiam que o fim último da vida não é a excelência, mas sim a felicidade!"