È A LÓKURA

Se eu penso em ti, seremos nós!!! Carpe Diem ...Akuna Matata!!!!

quarta-feira, janeiro 26, 2011

Acordo Ortográfico

Um cê a mais
Manuel Halpern



Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o c na pretensão de me ensinar a nova grafia. De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa. Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio.

Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes cês e pês me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância. Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueças de mim! Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí. E agora as palavras já nem parecem as mesmas. O que é ser proativo? Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.

Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram hifenes e entraram erres que andavam errantes. É uma união de facto, para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem.

Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os és passaram a ser gémeos, nenhum usa chapéu. E os meses perderam importância e dignidade, não havia motivo para terem privilégios, janeiro, fevereiro, março são tão importantes como peixe, flor, avião. Não sei se estou a ser suscetível, mas sem p algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.

As palavras transformam-nos. Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do cê não me faça perder a direção, nem me fracione, nem quero tropeçar em algum objeto abjeto. Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um cê a atrapalhar.

3 Comments:

Anonymous Anónimo said...

Bom texto!!!Cá por mim...vou continuar a pôr o "chapéuzinho", para que não confudamos verbos e preposições na análise morfológica das frases. Há coisas que não deviam de nos ser impostas, parecem quase contra-natura, porque a evolução não foi um processo evolutivo e natural dos seus falantes. Éramos muito mais ricos, na análise da Língua, quando havia diversidade.Digo eu...

quinta jan. 27, 10:22:00 da manhã  
Blogger Márcio said...

ABAIXO O ACORDO!!!!
Sou determinantemente contra!!!
Se com esses "acessórios", como chamam agora aos "cês" e "erres" e afins que estavam "a mais", muitas vezes tinhamos que verificar o contexto para perceber as palavras em questão, agora temos que verificar mais vezes o contexto e ainda assim poderemos ficar na dúvida...
E desculpa. mas cada vez que ouço um brasileiro falar e fazer junções de palavras... o futuro da nossa língua é "aquilo"?
Prefiro continuar a ver a marca da esferógrafica vermelha da professora...

segunda fev. 28, 09:07:00 da tarde  
Anonymous Anónimo said...

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sábado jun. 18, 05:08:00 da tarde  

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